Notícias

Festival Paisagem Sonora lança os Cadernos de Educação do Ilê Aiyê em versão digital

O Festival Paisagem Sonora, promovido pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), lança os cinco primeiros volumes dos Cadernos de Educação do Ilê Aiyê, em versão digital e de acesso gratuito. Eles estão disponíveis em formato PDF aqui no Site do Festival (veja o Serviço no final deste texto). Este material integra o projeto Organizações da Resistência – Música e Educação, que marca uma nova etapa de ações formativas e de valorização das expressões culturais afro-brasileiras.

A produção destes conteúdos acontece em parceria com instituições importantes para a cultura afro-brasileira: a Associação Cultural Ilê Aiyê, o Instituto da Mulher Negra – Mãe Hilda Jitolu, o Grupo Cultural Olodum e a organização social Casa da Ponte, todos localizados em Salvador (BA).  O projeto realizará também o Encontro Griô de Saberes dos Mestres e Mestras, uma série de aulas online  sobre os saberes ancestrais de expoentes da preservação e transmissão oral de conhecimento. E, claro, a edição 2025 do Festival Paisagem Sonora, no final deste ano.

OS CADERNOS DO ILÊ

Em 1974, moradores do bairro da Liberdade, em Salvador, fundam o Ilê Aiyê, primeiro bloco-afro do Brasil. Ele se tornaria a Associação Cultural Ilê Aiyê porque o que motiva seu surgimento é também a luta contra o racismo e pela valorização da cultura afro-brasileira. O bloco nasce a partir do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Jitolu, que tinha como Ialorixá Mãe Hilda Jitolu. É ela quem funda a escola Mãe Hilda em 1988,  com turmas de alfabetização infantil e reforço escolar. O projeto ganha corpo ao longo dos anos e em 1997 a Associação lança o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê, tendo como base os Cadernos de Educação.

Esta reedição dos 21 Cadernos Pedagógicos foi realizada pelo Selo Anjo Negro, responsável pelo novo projeto gráfico (desenvolvido pelo estudio baiano Casa GridA). Muitos dos cadernos possuem dezenas de ilustrações do artista visual e designer J. Cunha. A ficha técnica original de cada caderno foi preservada, então é possível encontrar entre seus coordenadores e conteudistas, pesquisadores e autores fundamentais para a cultura afro-brasileira, como o historiador e escritor Jaime Sobre a pesquisadora e atual Ouvidora-Geral do Estado da Bahia, Arany Santana e a educadora Valdina de Oliveira Pinto (Makota Valdina). 

Caderno Organizações de Resistência

 O primeiro Caderno tem como tema  as organizações negras brasileiras, desde o Séc. XVII, até os anos de 1990 do Séc. XX. Nele são apresentados os diferentes povos africanos escravizados pelo sistema colonial no Brasil e a dimensão política presente na religiosidade afro-brasileira dos Terreiros de Candomblé e das Irmandades Religiosas.  O Caderno conta, por exemplo, como 40 escravizados desafiaram o sistema escravocrata, criando um território de liberdade e prosperidade conhecido como o Quilombo de Palmares, que em seu auge possuía cerca de 10 mil habitantes, entre negros, índios e brancos. Também traça um perfil de seu líder mais notável, Zumbi.

Avançando no tempo, o material apresenta uma resumida trajetória  de grupos que se organizaram com diferentes interesses, como a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD) que, a partir de 1832 funcionava como um consórcio para financiar cartas de alforria. Ou a Frente Negra Brasileira (1931), que conseguiu organizar cerca de  200 mil pessoas  no combate ao racismo. Surgida em São Paulo, se espalhou pela Bahia (tendo uma sede em Salvador), Maranhão, Rio de Janeiro, Sergipe, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Há ainda grupos que, como o Ilê Aiyê, souberam articular carnaval e política em suas ações, a exemplo do Afoxé Filhos de Gandhy  e dos chamados blocos de “índio”, como o Apaches do Tororó. O caderno se encerra contando a história do próprio Ilê e apresentando as letras das canções do Bloco para o Carnaval de 1995

Caderno A Civilização Banto

O segundo Caderno  apresenta o surgimento da população que seria conhecida como o povo Banto, e  que é anterior à era cristã. Também seus fluxos migratórios e o impacto destes fluxos no povoamento do Continente Africano. Bem como as divisões decorrentes destas migrações que fazem surgir, por exemplo, os Banto Orientais, Meridionais e Ocidentais. 

O caderno resgata ainda a sua sofisticada metalurgia e os muitos reinos que está civilização criou e fez prosperar. Explicando como estes reinos da era pré-colonial  desenvolveram suas estruturas políticas, econômicas e sociais. E detalhando características como o uso da terra, as relações familiares, seus sistemas de trocas e de defesa, além das histórias de resistências destes reinos à invasão europeia. Por fim, o caderno apresenta as diferentes influências e contribuições , da língua, da religiosidade, da arte e da cultura Banto para a formação social do Brasil

Caderno Zumbi 300 anos

A terceira publicação articula dois conteúdos: faz um balanço do Projeto Pedagógico do Ilê com sua expansão para  mais três escolas do bairro da Liberdade, até aquele momento. E demonstra como, através da formação de professores e do uso deste material didático em diferentes disciplinas, o projeto estava contribuindo para uma pedagogia educacional  de resgate e valorização da cultura negra. 

O segundo conteúdo é um desdobramento dessa prática de expansão e articulação: o Projeto realizava as chamadas ações de mobilização direta de crianças e adolescentes das escolas envolvidas. Estas ações incluíam oficinas de música, capoeira, trançado e concursos literários. Então, o Caderno apresenta os trabalhos vencedores do concurso Zumbi dos Palmares – 300 anos, Ilê Aiyê – 21 anos. A partir da história de Zumbi, alunos do projeto criaram poemas, desenhos e redações sobre o líder de Palmares. O texto argumenta o quão importante é registrar estes métodos, para que eles possam ser utilizados por outras iniciativas como a do Projeto.

Caderno A Força das Raízes

Quarto volume dos Cadernos, é como um dossiê sobre os diversos aspectos da religiosidade afro-brasileira e de seu processo de organização. Ele apresenta um rico conteúdo de ensaios sobre os cultos de Inkissi, Vodum e Orixá, suas diferentes características a partir de diferentes nações (Angola, Jeje, Keto). 

Na dimensão social e civilizatória da religião, temos a hierarquia organizacional de cargos e funções dentro dos espaços sagrados. Os atributos dos deuses e deusas e as diferentes maneiras de nomeá-los, que variam entre as nações Angola, Jeje e Keto. No texto final deste caderno, um ensaio resgata as origens religiosas do Ilê Aiyê, detalhando as articulações entre política, arte e religiosidade que estruturam as ações do Bloco.

Caderno Pérolas Negras do Saber 

O quinto volume dos Cadernos, resgata a trajetória de vida e as obras de homens e mulheres negras do Brasil, que alcançaram destaque na política, na educação, em diferentes campos do saber científico, na religião, no cinema, na música, na literatura e  nos esportes.  

A então senadora Benedita da Silva, o político Cosme de Farias, a antropóloga e pesquisadora Lelia Gonzalez, o artista visual Manuel Querino, a historiadora Maria Beatriz Nascimento e os médicos Juliano Moreira e Martagão Gesteira são alguns dos afrodescendentes que têm sua trajetória biografada. 

O Caderno apresenta ainda a seleção de canções do Ilê Aiyê para o Carnaval de Salvador em 1997.

Na Fundação Ilê Aiyê, o projeto do Festival prevê ainda aulas para 08 turmas do ensino fundamental I, alcançando cerca de 200 alunos. No site do Festival, além destes cinco primeiros Cadernos, também é possível baixar um pôster para impressão, com todas as capas dos 21 Cadernos.

 

PARCERIAS ARTÍSTICAS E ATIVIDADES EDUCACIONAIS

O Projeto Organizações de Resistência marca uma nova etapa de ações continuadas do Festival Paisagem Sonora. A parceria da UFRB com as quatro instituições,  inclui a realização de atividades formativas em diferentes campos. Na música, como cursos e oficinas; na pedagogia, com atividades de formação de professores, músicos e estudantes; e no resgate histórico, através da publicação ou reimpressão de textos e da produção de  vídeo-documentários.

 O Instituto da Mulher Negra – Mãe Hilda Jitolu

Criado para manter o legado de Mãe Hilda Jitolu, o Instituto atua na promoção de direitos para mulheres negras, com ênfase na educação para direitos humanos, formação e  qualificação profissional e preservação da memória. 

Lá o Organizações de Resistência vai promover um curso para formação de professores sobre questões étnico-raciais e um outro para capacitar estudantes universitários, sobre relações étnico-raciais. Também vai, com base nos texto do livro Mãe da Liberdade: A Trajetória da Ialorixá Hilda Jitolu, realizar atividades educativas e culturais para a difusão da Política Nacional de Promoção da Equidade da Educação Étnico- Racial, do Ministério da Educação. 

O Grupo Cultural Olodum

Surgido em 1979, o então Bloco Olodum, transformou-se numa das maiores expressões musicais do Brasil. Mas não só isso. Ao longo de sua trajetória, criou a Escola Olodum, pioneira em educação antirracista; o Festival de Música e Artes do Olodum (FEMADUM) e mantêm seu Centro Digital de Memória. Sempre articulando arte e política na promoção dos direitos humanos e no combate ao racismo.

As atividades que o projeto Organizações desenvolverá com o Olodum têm como meta a reimpressão do caderno pedagógico da Escola Olodum e das cartilhas  que compõem o Kit Olodum Griô (Búzios, Malês, Chibata e Zumbi). Também será impressa a Cartilha Pedagógica 02 de julho, e serão criadas histórias em quadrinhos, e-books, músicas e vídeos com foco  nas históricas revoltas negras que ocorreram na Bahia. Estão previstas ainda duas oficinas  de música e dança para 100 alunos e um curso de formação em pedagogia decolonial e antirracista para 50 professores.

A Casa da Ponte

Criada em 2018, a Casa da Ponte Maestro Ubiratan Marques é uma escola dedicada à música, sede da Orquestra Afrosinfônica e da Orquestra Jovem, ambas caracterizadas pela articulação entre o erudito e o popular. Seu Núcleo Moderno de Música, promove diferentes cursos de formação musical. 

Na Casa da Ponte, o projeto  promoverá formação musical para nove turmas de alunos e apresentações pedagógicas  no Largo do Pelourinho, em Salvador.

Organizações da Resistência – Música e Educação reafirma o compromisso da UFRB, por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC), com a valorização da memória afro-brasileira, a democratização do acesso à educação e a promoção da equidade racial.  O projeto conta com o financiamento do Governo Federal, através da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura (MinC) e Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação (MEC).

 

SERVIÇO

Cadernos de Educação do Ilê Aiyê

Os Cadernos estão aqui: festivalpaisagemsonora.org/cadernos-ile

Pular para o conteúdo